A Vida Cristã

10.1 Amor
O Amor é  básico na Conduta Cristã

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes,
não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente,
não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
tudo sofre, tudo crê, tudo suporta
.” 1 Coríntios 13.4-7

O Cristianismo do Novo Testamento é essencialmente resposta à revelação do Criador como um Deus de amor. Deus é um Ser tríplice que ama de tal maneira os humanos incrédulos que o Pai de seu Filho, o Filho deu sua vida, e Pai e Filho juntos agora dão o Espírito para salvar os pecadores da  miséria inimaginável e leva-los à glória inimaginável. A crença nesta maravilhosa realidade do amor divino e a sujeição a ele geram e sustentam o amor das criaturas a Deus e ao próximo, que os dois grandes mandamentos de Cristo requerem (Mt 22.35-40). Nosso amor consiste em expressar nossa gratidão pelo gracioso amor de Deus por nós, e ser moldados por ele (Ef 4.32-5.2; Jo 3.16).

O selo de legitimidade da vida cristã é, pois, o amor cristão. A medida e teste do amor a Deus é a obediência sincera e completa (1 Jo 5.3; Jo 14.15,21,23); a medida e o teste do amor do nosso próximo é dar a nossa vida por eles (1 Jo 3.16; cf Jo 15.12,13). Este amor sacrificial envolve dar-se, consumir-se e empobrecer-se até o limite do bem-estar do próximo. A história contada por Jesus da bondade do samaritano para com o odiado judeu permanece como sua definição-modêlo do amor ao próximo (Lc 10.25-37).

O amor ao próximo está caracterizado em 1 Coríntios 13.4-8. Sua total falta de egoísmo é comovente. O amor ao próximo busca o bem do próximo, e sua verdadeira medida é o quanto ele dá para esse fim.

O amor é um princípio de ação e não de emoção. É um propósito de honrar e beneficiar a outra parte. É uma questão de dar coisas para as pessoas por pura compaixão de sua necessidade, que sintamos ou não afeição pessoal por elas. É por seu amor ativo aos outros que os discípulos de Jesus devem ser reconhecidos (Jo 13.34,35).

Autor: J. I. Packer
Fonte: Teologia Concisa, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br


10.2 O Fruto do Espírito
Romanos 12:1-21; 1 Coríntios 12:1-14:40; Gálatas 5:19-26; Efésios 4:1-6:20

O fruto do Espírito Santo é um dos aspectos mais negligenciados do ensino bíblico sobre santificação. Há várias razões para isso:

1. A preocupação com as coisas exteriores. Embora os estudantes muitas vezes murmurem e reclamem quando têm de fazer uma prova na escola, há um sentido em que realmente queremos fazer as provas. Sempre encontramos nas revistas modelos de testes que medem habilidades, realizações ou conhecimentos. As pessoas gostam de saber em que nível estão. Será que consegui alcançar a excelência numa certa área, ou estou afundando na mediocridade?

Os cristãos não são diferentes. Tendemos a medir nosso progresso na santificação examinando nosso desempenho de acordo com padrões externos. Proferimos maldições e palavrões? Bebemos muito? Vamos muito ao cinema? Esses padrões são freqüentemente usados para medir a espiritualidade. O verdadeiro teste — a evidência do fruto do Espírito Santo — geralmente é ignorado ou minimizado. Foi nessa armadilha que os fariseus caíram.

Nós nos afastamos do verdadeiro teste porque o fruto do Espírito é difícil demais. Exige muito mais do caráter pessoal do que os padrões exteriores superficiais. É muito mais fácil evitar falar um palavrão do que adquirir o hábito de ter uma paciência piedosa.

2. A preocupação com os dons. O mesmo Espírito Santo que nos guia na santidade e produz fruto em nós também distribui os dons espirituais aos crentes. Parecemos muito mais interessados nos dons do Espírito do que no fruto, a despeito do ensino claro da Bíblia de que alguém pode possuir dons e ser imaturo no progresso espiritual. A carta de Paulo aos Coríntios deixa isso muito claro.

3. O problema dos descrentes justos. É frustrante medirmos nosso progresso na santificação pelo fruto do Espírito Santo porque as virtudes relacionadas às vezes são exibidas num nível maior por descrentes. Todos nós conhecemos pessoas não-cristãs que demonstram mais bondade ou mansidão do que muitos cristãos. Se as pessoas podem ter o “fruto do Espírito” independentemente do Espírito, como podemos determinar nosso crescimento espiritual desta maneira?

Há uma diferença qualitativa entre as virtudes de amor, alegria, paz, longanimidade, etc., engendradas em nós pelo Espírito Santo e aquelas exibidas pelos descrentes. Os não-crentes operam por motivos que, em última análise, são egoístas. Quando, porém, um crente exibe o fruto do Espírito, ele está mostrando características que, em última análise, são voltadas para Deus e para o próximo. Ser cheio do Espírito Santo significa ter uma vida controlada pelo Espírito; os não-crentes só podem exibir essas virtudes espirituais no nível da capacidade humana.

Paulo faz uma lista das virtudes do fruto do Espírito em sua carta aos Gálatas: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22,23). Essas virtudes caracterizam a vida cristã. Se somos cheios do Espírito, vamos exibir o fruto do Espírito. Isso, porém, obviamente envolve tempo. Não são ajuste superficiais do caráter que ocorrem da noite para o dia. Tais mudanças envolvem uma reformulação das disposições mais íntimas do coração, o que representa um processo de longa vida de santificação pelo Espírito.

Sumário

1. Tendemos a negligenciar o estudo do fruto do Espírito Santo porque: (1) nos preocupamos mais com aspectos exteriores; (2) nos preocupamos mais com os dons espirituais e (3) reconhecemos que muitas pessoas incrédulas exibem as virtudes espirituais melhor do que os cristãos.

2. É mais fácil medir a espiritualidade por fatores exteriores do que pelo fruto do Espírito.

3. Podemos ter os dons espirituais e mesmo assim ser imaturos.

4. Existe uma diferença qualitativa entre a presença das virtudes espirituais nos incrédulos e nos crentes. Nos incrédulos, a virtude demonstra um mero esforço humano. Nos cristãos, as virtudes espirituais representam o Deus Espírito Santo produzindo um fruto espiritual numa medida além da capacidade humana.

Autor: R. C. Sproul
Fonte: 3º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .


10.3 A Esperança
Jó 13.15; Rm 5.1-5; Rm 8.18-25; Tt2.11-14; 1 Jo 3.1-3

Há muitas coisas neste mundo pelas quais “esperamos”. Esperamos receber um aumento salarial. Esperamos que nosso time favorito vença o campeonato. Este tipo de esperança expressa nossos desejos pessoais quanto ao futuro. Temos esperança concernente a coisas incertas. Não sabemos se nossos desejos se realizarão, mas matemos a esperança que sim.

Quando a Bíblia fala de esperança, ela tem em vista algo diferente. A esperança bíblica pe uma firme convicção de que as promessas de Deus para o futuro se cumprirão. A esperança não é uma projeção de desejos, mas um certeza de que acontecerá. “A qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu.” (Hb 6.19).

A esperança é colocada junto com a fé e o amor como uma das virtudes cristãs que o apóstolo Paulo apresenta em 1 Coríntios 13.13. Esperança é fé direcionada para o futuro.

A Bíblia fala da esperança de duas maneiras. O uso menos comum aponta para o objeto da nossa esperança. Cristo é a nossa esperança de vida eterna. O uso mais comum é quanto a uma atitude de certeza com respeito ao cumprimento das promessas de Deus. O cristão é chamado à esperança, isto é, para a plena certeza da ressurreição do povo de Deus e a vinda do Reino de Deus. A esperança está ligada de forma inseparável à escatologia.

Paulo lembra aos cristãos que até que o Reino venha em sua plenitude, os crentes só podem ter uma esperança assegurada; devem “andar por fé e não pelo que vemos” (2 Co 5.7). Esta esperança não é infundada. Embora vida do cristão seja marcada mais pelo sofrimento do que pelo triunfo (1 Co 4.8-13; 2 Co 4.7-18), o fundamento da esperança está na Deidade.

Primeiro, o crente olha para a morte e a ressurreição de Cristo. Sua morte representou o momento mais tenebroso para seus discípulos. O Messias prometido estava morto e seu Reino aparentemente perdido. Com a Ressurreição, o desespero transformou-se em esperança. Junto com o sofrimento, seja grande ou pequeno, a esperança do cristão deve prevalecer. Deus é sempre suficiente e fiel.

Segundo, o crente tem o Espírito Santo como penhor do Reino. Sua presença nos dá a certeza de que o reino será plenamente consumado. O Espírito não só é um sinal para a esperança, mas também o sustentáculo da esperança. Ele cumpre o papel de Consolador, cingindo o crente de esperança e força. É o Espírito que encoraja o crente a orar ao Pai: ” Venha o teu Reino“.

Sumário

1. A esperança bíblica é uma questão de certeza, mais do que desejo.

2. Esperança é uma virtude e não uma fraqueza.

3. Fé é confiança naquilo que Deus já fez. Esperança é confiança no que Deus promete para futuro.

4. A ressurreição de Cristo nos dá esperança no meio do sofrimento.

5. O Espírito Santo, o Consolador, nos dá esperança. Sua presença é a garantia da vinda do Reino de Deus.

Autor:  R. C. Sproul
Fonte: 3º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br


10.4 A Oração

Por que Deus quer que nós oremos?
Como podemos orar de modo eficaz?

1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
O caráter de Deus e o seu relacionamento com o mundo, conforme discussão nos capítulos anteriores, naturalmente conduzem à consideração da doutrina da oração. A oração pode ser definida da seguinte maneira: A oração é nossa comunicação pessoal com Deus.
Essa definição é muito ampla. O que chamamos “oração” inclui orações de pedidos por nós mesmos e por outros (às vezes chamadas orações de petição ou intercessão), confissão de pecado, adoração, louvor e ação de graças.

A. Por que Deus quer que oremos?

A oração não foi instituída para que Deus pudesse descobrir nossas necessidades, pois Jesus nos diz: “porque o […] Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem” (Mt 6.8). Deus quer que oremos porque a oração expressa nossa confiança nele e é um meio pelo qual nossa confiança nele pode aumentar. De fato, talvez a ênfase primária do ensino bíblico sobre a oração é que devemos orar com fé, que significa confiança ou dependência de Deus. Deus, como nosso Criador, se deleita no fato de que suas criaturas confiam nele, pois a atitude de dependência é a forma mais apropriada para expressar o relacionamento entre o Criador e a criatura.
As primeiras palavras da oração que o Senhor nos ensinou, ”Pai nosso, que estás nos céus!” (Mt 6.9), admitem nossa dependência de Deus como o Pai sábio e amoroso e também reconhecem que, de seu trono celestial, ele governa todas as coisas. Muitas vezes a Escritura enfatiza nossa necessidade de confiar em Deus quando oramos. Por exemplo, Jesus compara nossa oração ao filho que pede a seu pai um peixe e um ovo (Lc 11.9-12) e a seguir conclui: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir?” (Lc 11.13). Como os filhos olham para seus pais esperando a providência deles, assim Deus espera que olhemos para ele em oração. Visto que Deus é nosso Pai, devemos pedir a ele com fé. Jesus diz: “E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão” (Mt 21.22; cf. Mc 11.24; Tg 1.6-8; 5.14,15).
Mas Deus não quer somente que confiemos nele. Ele também quer que o amemos e tenhamos comunhão com ele. Essa, então, é a segunda razão pela qual Deus quer que oremos.
A oração nos traz à comunhão mais profunda com Deus, e ele nos ama e tem prazer em nossa comunhão com ele. Quando oramos verdadeiramente, nós como pessoas, na totalidade de nosso caráter, estamos nos relacionando com Deus como uma pessoa, na totalidade do seu caráter. Assim, tudo o que pensamos ou sentimos a respeito de Deus é expresso em nossa oração. É natural que Deus tenha prazer em tal atividade e dê tanta ênfase a ela e ao relacionamento conosco.
A terceira razão pela qual Deus quer que oremos é que na oração Deus permite que nós, como criaturas, fiquemos envolvidos em atividades que são eternamente importantes. Quando oramos, o avanço do Reino se processa. Desse modo, a oração nos dá oportunidade de nos envolvermos de modo significativo na obra do Reino e, assim, dá expressão à nossa espantosa importância como criaturas feitas à imagem de Deus.
A quarta razão pela qual Deus quer que oremos é que na oração damos glória a Deus. A oração em humilde dependência de Deus indica que estamos genuinamente convencidos de sua sabedoria, amor, bondade e poder.

B. A eficácia da oração

Como exatamente a oração funciona? Além de nos fazer bem, será que a oração também afeta Deus e o mundo?

1. A oração muitas vezes muda o modo de Deus agir.

Tiago nos diz: “Não têm, porque não pedem” (Tg 4.2). Ele sugere que a falha em pedir priva-nos do que Deus, de outra forma, nos teria dado. Nós oramos e Deus responde. Jesus também diz: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Lc 11.9,10). Ele faz a conexão clara entre procurar coisas de Deus e recebê-las. Quando pedimos, Deus responde.
Isso acontece muitas vezes no AT. O Senhor declarou a Moisés que ele haveria de destruir o povo de Israel por causa do seu pecado (Ex 32.9,10): “Moisés, porém, suplicou ao SENHOR, o seu Deus clamando: ‘O SENHOR […] Arrepende-te do fogo da tua ira! Tem piedade, e não tragas este mal sobre o teu povo…”’ (Lx 32.11,12). Então lemos: “E sucedeu que o SENHOR arrependeu-se do mal que ameaçara trazer sobre o povo” (Êx 32.14). Moisés orou, e Deus respondeu. Quando Deus ameaça punir seu povo por seus pecados, ele declara: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra” (2Cr 7.14). Quando o povo de Deus orar (com humildade e arrependimento), então ele ouvirá e os perdoará. As orações do povo de Deus claramente afetam o modo como ele age. De modo semelhante, “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (lJo 1.9). Nós confessamos, e então Deus perdoa.
Se estivermos realmente convencidos de que a oração muitas vezes muda o modo de Deus agir e que Deus realmente produz notáveis mudanças no mundo em resposta à oração (como a Escritura repetidamente nos diz que ele faz), deveremos orar muito mais do que oramos. Se oramos pouco, é provavelmente porque não cremos realmente que a oração realiza muita coisa.

2. A oração eficaz torna-se possível por nosso mediador, Jesus Cristo.
Porque somos pecaminosos e Deus é santo, não temos qualquer direito de, por nós próprios, entrar na presença de Deus. Precisamos de um mediador para estar entre nós e Deus e para colocar-nos em sua presença. A Escritura claramente ensina: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (lTm 2.5).
Mas se Jesus é somente mediador entre Deus e o homem, Deus vai ouvir as orações dos descrentes, os que não confiam em Jesus? A resposta depende do que entendemos por “ouvir”. Visto que Deus é onisciente, ele sempre ouve no sentido de que está consciente das orações feitas pelos descrentes que não vêm a ele por meio de Cristo. Deus pode até, de vez em quando, responder às orações deles por causa de sua misericórdia e no desejo de trazê-los à salvação por meio de Cristo. Contudo, em lugar algum Deus prometeu responder às orações dos descrentes. As únicas orações que ele prometeu “ouvir”, no sentido de escutar com simpatia e de comprometer-se a responder quando elas são feitas de acordo com a sua vontade, são as orações dos cristãos feitas por meio do mediador, Jesus Cristo (cf.Jo 14.6).
Então, o que dizer a respeito dos crentes do AT? Como poderiam eles vir a Deus por meio de Jesus, o mediador? A resposta é que a obra de Jesus como nosso mediador foi representada em sombras pelo sistema sacrificial e pelas ofertas feitas pelos sacerdotes no templo (Hb 7.23-28; 8.1-6; 9.1-14 etc.). Contudo, não havia nenhum mérito salvador no sistema de sacrifícios (Hb 10.1-4). Por meio do sistema sacrificial, os crentes foram aceitos por Deus somente com base na obra futura de Cristo representada em sombras por aquele sistema (Rm 3.23-26).
A atividade de Jesus como mediador é vista especificamente em sua obra como sacerdote: Ele é nosso “grande sumo sacerdote que adentrou os céus”, aquele que “passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hb 4.14,15).
Como beneficiários da nova aliança, não precisamos permanecer “fora do templo”, como todos os crentes, exceto os sacerdotes, de quem se exigiu isso sob a antiga aliança. Nem precisamos permanecer fora do “Santo dos Santos” (Hb 9.3), o lugar mais interior do templo, onde o próprio Deus estava entronizado acima da arca da aliança e onde somente o sumo sacerdote poderia entrar, apenas uma vez ao ano. Mas agora, visto que Cristo morreu como o nosso Sumo Sacerdote mediador (Hb 7.26,27), ele ganhou para nós intrepidez e acesso à verdadeira presença de Deus. ”Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hb 10.19), isto é, no Santo Lugar e no Santo dos Santos, a verdadeira presença do próprio Deus! A obra de mediação de Cristo dá-nos confiança para aproximar-nos de Deus em oração.

3. O que significa orar “em nome de Jesus”?

Jesus diz: “E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei” (Jo 14.13,14). Ele também diz que escolheu seus discípulos “a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome” (Jo 15.16). De modo semelhante, ele diz: “Eu lhes asseguro que meu Pai lhes dará tudo o que pedirem em meu nome […] Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (Jo 16.23,24; cf. Ef 5.20). Mas o que isso significa?
É claro que isso não significa simplesmente a adição da cláusula ”em nome de Jesus” após cada oração, porque Jesus não disse: “Se você pedir alguma coisa e acrescentar as palavras em nome de Jesus’, após a sua oração, então eu farei”. Jesus não está falando meramente a respeito de adicionar certas palavras como se elas fossem uma espécie de fórmula mágica que daria poder às nossas orações. De fato, nenhuma das orações registradas na Escritura tem a frase “em nome de Jesus” no final delas (v. Mt 6.9-13; At 1.24,25; 4.24-30; 7.59; 9.13,14; 10. 14 ;Ap 6.10; 22.20).
Vir em nome de alguém significa que outra pessoa nos autorizou a vir com a sua autoridade, não com a nossa. Quando Pedro ordena ao homem coxo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande” (At 3.6), ele está apelando para a autoridade de Jesus, não para a própria autoridade. Quando os membros do Sinédrio perguntaram aos discípulos: “Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?” (At 4.7), eles estavam perguntando: “Com a autoridade de quem vocês fizeram isso?”. Quando Paulo repreende um espírito imundo “em nome de Jesus Cristo” (At 16.18), ele torna claro que está fazendo isso com a autoridade de Jesus, não com a sua. Quando Paulo pronuncia juízo “em nome de nosso Senhor Jesus” (1 Co 5.4) sobre um membro da igreja que é culpado de imoralidade, está agindo com a autoridade do Senhor Jesus. Orar em nome de Jesus é, portanto, oração feita com autorização dele com base em sua obra mediadora por nós.
Em sentido mais amplo, o “nome” de uma pessoa no mundo antigo representava a própria pessoa e, portanto, tudo de seu caráter. Ter um “bom nome” (Pv 22.1, RA; Ec 7.1) era possuir boa reputação. Assim, o nome de Jesus representa tudo o que ele é, seu caráter total. Isso significa que orar “em nome de Jesus” não é somente orar com a sua autoridade, mas também orar de modo que seja condizente com o seu caráter, que verdadeiramente o represente e reflita sua maneira de viver e sua própria vontade santa. Orar em nome de Jesus também significa orar de acordo com o seu caráter. Nesse sentido, orar em nome de Jesus se aproxima da idéia de orar de acordo com a sua ”vontade” (lJo 5.14,15).
Isso significa que é errado acrescentar “em nome de Jesus” no final de nossas orações?
Certamente não é errado, contanto que entendamos o significado dessas palavras e que não é necessário pronunciá-las. Pode haver algum perigo, contudo, se acrescentamos essa frase a cada oração pública ou particular que fazemos, pois logo ela se tornará para as pessoas simplesmente a fórmula à qual atribuímos muito pouco significado se a pronunciamos sem pensar seriamente sobre ela. Ela pode ser vista, ao menos por crentes mais jovens, como uma espécie de fórmula mágica que torna a oração mais eficaz. Para evitar tal entendimento errôneo, provavelmente seria sábio decidir não usar essa fórmula muitas vezes e expressar o mesmo pensamento em outras palavras ou simplesmente na abordagem e atitude que temos para com a oração em geral. Por exemplo, as orações poderiam começar assim: “Pai, vimos diante de ti na autoridade do Senhor Jesus, teu Filho” ou “Pai, não vimos com méritos próprios, mas nos méritos de Jesus Cristo, que nos convidou a comparecer diante de ti…”, ou “Pai, te agradecemos por perdoares os nossos pecados e dares acesso ao teu trono pela obra de Jesus Cristo, teu Filho…”. Em outras ocasiões mesmo esses reconhecimentos formais não devem ser considerados necessários, à medida que nosso coração perceba continuamente que é nosso Salvador que nos capacita a orar ao Pai. A oração genuína é conversa com a pessoa a quem conhecemos bem e que nos conhece. Tal conversa genuína entre pessoas que se conhecem mutuamente nunca depende do uso de certas fórmulas ou palavras exigidas, mas é questão de sinceridade em nossa linguagem e em nosso coração, uma questão de atitudes corretas e de condição de nosso espírito.

4. Devemos orar a Jesus e ao Espírito Santo?

Um levantamento das orações do NT indica que elas não são usualmente dirigidas a Deus Filho nem ao Espírito, mas a Deus Pai. Todavia, a mera verificação de tais orações pode ser ilusória, pois a maioria das orações que temos registradas no NT é do próprio Jesus, que constantemente orou a Deus Pai, mas naturalmente não orou a si próprio como Deus Filho. Além disso, no AT, a natureza trinitária de Deus não foi revelada claramente, e não é de surpreender que não encontremos muita evidência de oração dirigida diretamente a Deus Filho ou a Deus Espírito antes do tempo de Cristo.
Embora haja um padrão claro de oração diretamente dirigida a Deus Pai por intermédio do Filho (Mt 6.9; Jo 16.23; Ef 5.20), há outras indicações de que a oração dirigida diretamente a Jesus Cristo também é apropriada. O fato de que foi o próprio Jesus que escolheu todos os outros apóstolos sugere que a oração em Atos 1.24 seja dirigida a ele: “Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido”. O agonizante Estevão ora: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). A conversa entre Ananias e “o Senhor” em Atos 9.10-16 é com Jesus, porque no versículo 17 Ananias diz a Saulo: “o Senhor Jesus enviou-me para que você volte a ver…’. A oração “Vem, Senhor” [Maranatha] (lCo 16.22) é dirigida a Jesus, como a oração registrada em Apocalipse 22.20: “Vem, Senhor Jesus!”. E Paulo também orou ao “Senhor” em 2Coríntios 12.8 a respeito do seu espinho na carne.’
Além disso, o fato de que Jesus é “sumo sacerdote misericordioso e fiel” (Hb 2.17) que é capaz de “compadecer-se das nossas fraquezas” (Hb 4.15) é encorajamento para virmos ousadamente perante o “trono da graça” em oração “a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4.16). Esses versículos devem incentivar-nos a vir diretamente a Jesus em oração, esperando que ele simpatize com as nossas fraquezas à medida que oramos.
Há, portanto, autorização escriturística suficiente para encorajar-nos a orar não somente a Deus Pai (que parece ser o padrão primário e certamente segue o exemplo que Jesus nos ensinou na oração do Senhor), mas também a orar diretamente a Deus Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ambos os caminhos estão corretos, e, assim, podemos orar tanto ao Pai quanto ao Filho.
Mas devemos orar ao Espírito Santo? Embora nenhuma oração diretamente dirigida ao Espírito Santo tenha sido registrada no NT, não há nada que proíba tal oração, porque o Espírito Santo, semelhantemente ao Pai e ao Filho, é plenamente Deus e, portanto, é digno de oração e poderoso para responder a nossas orações. Ele também se relaciona conosco de modo pessoal, já que é o “Conselheiro” ou “Consolador” (Jo 14.16,26). Os crentes “o conhecem” [‘O nome “Senhor” (kyrios, no grego) é usado em Atos e nas cartas para referir-se especialmente ao Senhor Jesus Cristo.] (Jo 14.17), e ele os ensina (cf. Jo 14.26), dá testemunho a nós de que somos filhos de Deus (Rm 8.16) e pode ser entristecido pelos nossos pecados (Ef 4.30).Além disso,o Espírito Santo exerce volição pessoal na distribuição dos dons espirituais, pois “todas essas coisas [os dons], porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer” (lCo 12.11). Portanto, não parece errado orar diretamente ao Espírito Santo em certas ocasiões, particularmente quando estamos lhe pedindo para fazer algo relacionado a áreas especiais de seu ministério e responsabilidade. Mas esse não é o padrão do NT e não deveria tornar-se a ênfase dominante em nossa vida de oração.
C. Algumas considerações importantes sobre a oração eficaz

A Escritura indica uma gama de considerações que precisam ser levadas em conta se vamos oferecer a espécie de oração que Deus deseja de nós.

1. Orar de acordo com a vontade de Deus.
João nos diz: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos” (lJo 5.14,15). Jesus nos ensina a orar: “seja feita a tua vontade” (Mt 6.10), e ele próprio nos deu o exemplo, quando no jardim do Getsêmani orou: ”… não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt 26.39).
Mas como sabemos qual é a vontade de Deus quando oramos? Se o assunto sobre o qual estamos orando tem o respaldo de uma passagem da Escritura na qual Deus nos dá uma ordem ou uma declaração direta da sua vontade, então a resposta a essa pergunta é fácil: sua vontade é que sua Palavra seja obedecida e que seus mandamentos sejam observados. Devemos buscar a perfeita obediência à vontade moral de Deus na terra, de modo que a vontade de Deus possa ser feita “assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Por essa razão, o conhecimento da Escritura é tremenda ajuda na oração, capacitando-nos a seguir o padrão dos primeiros cristãos, que citavam a Escritura enquanto oravam (v.At 4.25,26). A leitura e a memorização regular da Escritura durante anos vão aumentar a profundidade, o poder e a sabedoria das orações do cristão. Jesus nos encoraja a ter suas palavras dentro de nós enquanto oramos, pois ele diz: “Se vocês permanecerem em mim,e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15.7). ‘Com respeito à adoração do Espírito Santo, a totalidade da igreja — católicos romanos, ortodoxos e protestantes — tem unanimemente concordado que ela é apropriada, como afirmado no Credo niceno, elaborado em 381 d.C.: ”E cremos no Espírito Santo, Senhor, Doador da Vida, que procede do Pai e do Filho,o qual com o Pai e o Filho juntamente é adorado e glorificado”. De modo semelhante, a Confissão de fé de Westminster diz: “O culto religioso deve ser prestado a Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo — e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura” (XXI.2). Muitos hinos em uso há séculos dão Louvor ao Espírito Santo, tais como o Gloria Patri (“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito, como era no princípio, agora e para sempre, por todos os séculos. Amém!”) ou como a doxologia (“A Deus, supremo benfeitor, anjos e homens dêem Louvor; a Deus, o Filho, a Deus Pai, e a Deus, Espírito, glória dai. Amém”). Essa prática é baseada na convicção de que Deus é digno de adoração, e como o Espírito Santo é plenamente Deus, ele é digno de adoração. Tais palavras de louvor são uma espécie de oração ao Espírito Santo, e, se elas são apropriadas, parece não haver razão para pensar que outras espécies de oração ao Espírito Santo não sejam apropriadas.
Devemos ter grande confiança em que Deus vai responder a nossas orações quando lhe pedirmos algo que está de acordo com alguma promessa específica ou mandamento da Escritura como esse. Em tais casos, sabemos qual é a vontade de Deus, porque ele a disse para nós, e simplesmente precisamos orar crendo que ele haverá de responder.
Contudo, há muitas outras situações na vida em que não sabemos qual é a vontade de Deus. Podemos não ter certeza de qual ela seja porque nessas situações não se aplica nenhuma promessa ou mandamento da Escritura, como, por exemplo, se é a vontade de Deus que aceitemos o emprego para o qual nos candidatamos, ou se vamos ganhar uma competição esportiva da qual participaremos (uma oração comum entre crianças, especialmente), ou se seremos escolhidos para exercer algum cargo na igreja, e assim por diante. Em todos esses casos, tendo maior entendimento da Escritura, talvez alcancemos alguns princípios gerais dentro dos quais nossas orações possam ser feitas. Mas, de qualquer forma, muitas vezes temos de admitir que simplesmente não conhecemos qual é a vontade de Deus. Em tais casos, devemos procurar por entendimento mais profundo e, assim, orar pelo que parece melhor para nós, dando as razões ao Senhor pelas quais, em nosso entendimento da situação, estamos orando dessa maneira. Mas é sempre correto acrescentar, seja explicitamente seja ao menos na atitude de nosso coração: “No entanto, se eu estiver errado em pedir tal coisa, e se tal coisa não é agradável a ti, então faze como parece melhor aos teus olhos”, ou, de modo mais simples, “se é a tua vontade”. Algumas vezes Deus lhe dará o que você pediu. Outras vezes ele nos dará entendimento mais profundo ou uma mudança em nosso coração de modo que sejamos levados a pedir algo diferente. Em outras ocasiões ele não atenderá ao nosso pedido de forma alguma, mas simplesmente nos indicará que devemos submeter-nos à sua vontade (v. 2Co 12.9,10).
Alguns cristãos contrapõem que acrescentar a frase “se é a tua vontade” a nossas orações “destrói a nossa fé”. O que realmente acontece é que expressamos incerteza sobre se a oração que fazemos é ou não a vontade de Deus. Essa incerteza é adequada quando realmente não sabemos qual é a vontade de Deus, mas em outras ocasiões ela não é apropriada. Por exemplo, pedir a Deus por sabedoria para tomar uma decisão e a seguir dizer “se é a tua vontade me dar sabedoria aqui não é apropriado, pois seria declarar que não cremos que Deus quis dizer o que disse quando nos ordenou que pedíssemos com fé e ele atenderia o nosso pedido (“Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”—Tg 1.5).

2. Ore com fé.

Jesus diz: “Tudo o que vocês pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim lhes sucederá” (Mc 11.24). Algumas tradições variam, mas o texto grego realmente diz: “creiam que já o receberam”. Jesus está certamente dizendo que, quando pedimos alguma coisa, a espécie de fé que produz resultados é a certeza estabelecida de que, na hora em que oramos pedindo algo (ou talvez após termos orado por um período de tempo), Deus concordou em atender ao nosso pedido específico. Na comunhão pessoal com Deus que acontece na oração genuína, essa espécie de fé de nossa parte poderia vir somente à medida que Deus nos dá o senso de certeza de que ele concordou com o nosso pedido. Naturalmente não podemos “estimular” esse tipo de fé genuína por meio de qualquer espécie de oração frenética ou de grande esforço emocional para conseguir crer, nem podemos forçar a nós mesmos dizendo palavras que não cremos ser verdadeiras. Isso é algo que somente Deus tem poder para nos dar e que ele pode ou não nos conceder cada vez que oramos. Essa fé que causa certeza muitas vezes acontecerá quando pedirmos a Deus por algo e, então, esperarmos pacientemente pela resposta.
De fato, Hebreus 11.1 nos diz que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. A fé sobre a qual a Bíblia fala nunca é uma espécie de pensamento positivo ou uma esperança vaga que não causa nenhum tipo de fundamento seguro sobre o qual possamos repousar. Ao contrário, ela é confiança em uma pessoa, o próprio Deus, baseada no fato de que tomamos sua palavra e confiamos no que ele disse. Essa confiança em Deus ou dependência dele, que possui também elemento de certeza, é a fé genuína sobre a qual a Bíblia ensina.

3. Obediência.

Desde que a oração ocorre dentro de nosso relacionamento com Deus como pessoa, qualquer coisa em nossa vida que o desagrade será impedimento à oração. O salmista diz: “Se eu acalentasse o pecado no coração, o Senhor não me ouviria” (Sl 66.18). Embora o Senhor, por um lado, deteste “o sacrifício dos Ímpios”, por outro lado “a oração do justo o agrada” (Pv 15.8). Lemos novamente que “o SENHOR […] ouve a oração dos justos” (Pv 15.29). Mas Deus não está disposto a favorecer os que rejeitam as suas leis: “Se alguém se recusa a ouvir a lei, até suas orações serão detestáveis” (Pv 28.9).
O apóstolo Pedro cita o salmo 34 para afirmar que “… os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua oração, mas o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal” (1 Pe 3.12). Visto que os versículos anteriores encorajam a boa conduta na vida diária, no falar e no afastar-se do mal para fazer o que é reto, Pedro está dizendo que Deus ouve prontamente as orações dos que vivem em obediência a ele. De modo semelhante, Pedro adverte os maridos a viver a vida comum no lar com suas esposas “de forma que não sejam interrompidas a suas orações” (lPe 3.7). De igual modo, João nos lembra da necessidade de ter a consciência limpa diante de Deus quando oramos, pois ele diz: “Amados, se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus e recebemos dele tudo o que pedimos, porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada” (lJo 3.21,22).
Ora, esse ensino não deve ser entendido de modo errôneo. Não precisamos ser completamente livres do pecado diante de Deus para ter as nossas orações respondidas. Se Deus somente respondesse às nossas orações como pessoas sem pecado, então ninguém em toda a Bíblia, exceto Jesus, teria tido qualquer oração respondida. Quando chegamos diante de Deus por meio de sua graça, nos apresentamos limpos pelo sangue de Cristo (Rm 3.25; 5.9; Ef 2.13; Hb 9.14; lPe 1.2). Todavia, não devemos negligenciar a ênfase bíblica sobre a santidade pessoal. A oração e a vida santa andam juntas. Há muita expressão de graça na vida cristã, mas o crescimento na santidade pessoal é também o caminho para a bênção muito maior, e isso é verdade também com respeito à oração. As passagens citadas ensinam que, no mais não havendo diferenças, a obediência mais exata conduzirá à eficácia ainda maior na oração (cf. Hb 12.14; Tg 4.3,4).

4.  Confissão de pecados.

Porque a nossa obediência a Deus nunca é perfeita nesta vida, continuamente dependemos do perdão de nossos pecados. A confissão de pecados é necessária a fim de que Deus nos perdoe no sentido de restaurar diariamente o seu relacionamento conosco (v. Mt 6.12; lJo 1 .9).Quando oramos, é bom confessarmos todos os pecados conhecidos ao Senhor e pedir-lhe perdão. Quando esperamos nele, por vezes ele vai trazer à nossa mente outros pecados que precisam ser confessados. Com respeito aos pecados dos quais não nos lembramos e dos quais não estamos conscientes, é apropriado fazer a oração geral de Davi: “Absolve-me dos [erros] que desconheço” (Si 19.12).
Confessar nossos pecados a outros cristãos em quem confiamos pode trazer-nos certeza de perdão e encorajamento para vencer o pecado. Tiago relaciona a confissão mútua à oração, pois na passagem que discute a oração eficaz, ele nos encoraja: “… confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg 5.16).

5.  Perdoando outros.

Jesus diz: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas” (Mt 6.14,15). De modo semelhante, Jesus diz: “E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus pecados” (Mc 11.25). Nosso Senhor não tem em mente a experiência inicial de perdão quando somos justificados pela fé, pois isso não diz respeito às orações que fazemos cada dia (Mt 6.12,14,15). Ele está se referindo antes ao relacionamento diário com Deus que precisa ser restaurado quando pecamos contra ele e o desagradamos.
Visto que a oração supõe o relacionamento com Deus como pessoa, isso não é surpreendente. Se pecamos contra ele e entristecemos o Espírito Santo (cf. Ef 4.30), e o pecado não foi perdoado, ele interrompe nosso relacionamento com Deus (cf. Is 59.1,2).Até que o pecado seja perdoado e o relacionamento seja restaurado, a oração naturalmente será difícil. Além disso, se não temos perdão em nosso coração em relação a alguém, não estamos agindo de modo agradável a Deus ou útil a nós. Assim, Deus declara (Mt 6.12,14,15) que ele se distanciará de nós até que tenhamos perdoado os outros.

6. Humildade.

Tiago nos diz que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tg 4.6; tb. 1 Pe 5.5). Entretanto, ele diz: “Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará” (Tg 4. l0).A humildade é, assim, a atitude certa que se deve ter na oração a Deus, ao passo que o orgulho é totalmente impróprio.
A parábola de Jesus a respeito do fariseu e do publicano ilustra esse princípio. Quando o fariseu levantou-se para orar, foi jactancioso: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lc 18.11,12). O publicano, ao contrário, “nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador”’ (Lc 18.13). Jesus disse que o publicano “foi para casa justificado diante de Deus”, mas não o fariseu,”pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18.14). Por meio dessas palavras Jesus condenou os que, ”para disfarçar, fazem longas orações” (Lc 20.47), e os hipócritas que “gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros” (Mt 6.5).
Deus é certamente zeloso de sua própria honra. Portanto, ele não se agrada em responder a orações de orgulhosos que tomam a honra para si mesmos em vez de dá-la a Deus.A verdadeira humildade perante Deus, que também será refletida em humildade genuína perante os outros, é necessária para a oração eficaz.

7. O que dizer a respeito das orações não respondidas?

Devemos começar reconhecendo que, ainda que Deus seja Deus e nós sejamos suas criaturas, deve haver orações que não são respondidas. Isso é porque Deus não nos revela seus planos sábios para o futuro e, embora as pessoas orem, muitos eventos não acontecerão até o tempo que Deus tenha decretado. Os judeus oraram durante séculos pedindo que o Messias viesse, e fizeram bem, mas foi somente “quando chegou a plenitude do tempo que “Deus enviou seu Filho” (Gl 4.4).A alma dos mártires no céu, livres do pecado, clamam para que Deus julgue a terra (Ap 6.10), mas Deus não lhes responde imediatamente; ao contrário, ele lhes diz que esperem “um pouco mais” (Ap 6.11). Fica claro que pode haver longos períodos de espera durante os quais as orações permanecem sem resposta porque as pessoas que oram não conhecem o tempo próprio de Deus.
A oração também poderá não ser respondida porque nem sempre sabemos orar como convém (Rm 8.26), nem sempre oramos de acordo com a vontade de Deus (Tg 4.3) e nem sempre pedimos com fé (Tg 1.6-8). E às vezes pensamos que uma solução é melhor, mas Deus tem um plano melhor, ainda que seja para cumprir o seu propósito por meio do sofrimento e das adversidades. Sem dúvida José orou seriamente para ser resgatado do poço e não ser levado para o cativeiro no Egito (Gn 37.23-36), mas muitos anos mais tarde ele descobriu como em todos esses eventos Deus tomou o mal planejado e “o tornou em bem” (Gn 50.20).
Quando enfrentamos o problema das orações não respondidas, temos a companhia de Jesus, que orou: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Temos também a companhia de Paulo, que pediu ao Senhor “três vezes” para que o seu espinho na carne fosse removido, mas isso não aconteceu; ao contrário, o Senhor lhe disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.8,9). Quando a oração permanece sem resposta, devemos continuar a confiar em que “Deus age em todas as coisas para o bem” (Rm 8.28) e a lançar nossas preocupações sobre ele, sabendo que ele continuamente cuida de nós (lPe 5.7). Devemos manter na memória que ele dará força suficiente para cada dia (Dt 33.25) e que ele prometeu: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13.5; cf. Rm 8.35-39).
Devemos também continuar a orar. As vezes a resposta longamente esperada pode ser dada de modo repentino, como aconteceu com Ana após muitos anos esperando um filho (lSm 1.19,20), ou quando Simeão viu com os próprios olhos o tão esperado Messias vindo ao templo (Lc 2.25-35).
Mas há situações em que as orações permanecem sem resposta pela vida toda. Há casos em que Deus responderá às orações após a morte do crente. Em outros não, mas, mesmo assim, a fé expressa pelo crente nessas orações e suas expressões sentidas de amor por Deus e pelas pessoas ainda vão subir como um cheiro agradável diante do trono de Deus (Ap 5.8; 8.3,4), resultando em “louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado” (1 Pe 1.7).

D. Louvor e ação de graças.

Louvor e ação de graças a Deus são o elemento essencial da oração. A oração-modelo que Jesus nos deixou começa com louvor: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Paulo diz aos filipenses: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6), e aos colossenses: “Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam agradecidos” (Cl 4.2).A ação de graças, exatamente como em outro aspecto da oração, não deveria ser a expressão mecânica “muito obrigado” de nossa boca para com Deus, mas a expressão de palavras que refletem a gratidão de nosso coração. Além disso, nunca devemos pensar que agradecer a Deus pela resposta de alguma coisa que pedimos possa de alguma forma forçar Deus a nos dar o que pedimos, pois isso transforma o pedido sincero e genuíno em exigência que presume que podemos fazer Deus executar o que queremos que ele nos faça. Tal espírito em nossas orações realmente nega a natureza essencial da oração como manifestação de nossa dependência de Deus.
Ao contrário, a espécie de ação de graças que acompanha a oração de modo apropriado deve expressar gratidão a Deus em todas as circunstâncias, por cada evento da vida que ele permite que nos aconteça. Quando nossa oração é cheia de humildade, a simples ação de graças a Deus “em todas as circunstâncias” (lTs 5.18), então essa oração é aceitável a Deus.

Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teolofia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova


10. 5 Manual de Oração

Felizmente não existem regras ou técnicas de oração. Ela deve ser uma sincera expressão, sem fingimento ou falsos elogios. Davi diz que o Senhor “Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria. Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezará … Então te agradarás dos sacrifícios sinceros…” (Sl 51.16 -19)

Na oração, devemos nos aproximar de Deus com reverência e humildade. Enquanto nos dirigimos a Ele, devemos lembrar com quem estamos falando e quem nós somos. O Senhor é o Supremo (Sl 8.1,9; Rm 11.33-36) e nós criaturas frágeis e pecadoras (Jó 25.4-6; Sl 8.3,4).

O que é Oração

Orar, em sua definição mais simples, é dialogar com Deus, falando com Ele  através do Seu Santo Espírito. A confissão de Westminster diz: “A oração é oferta de nossos desejos a Deus, em nome de Cristo, com a ajuda do seu Espírito

Esta conversa pode ser direcionada ao Deus triuno ou a uma das pessoas da Santíssima trindade (ao Pai, ao Filho ou ao Espírito Santo).

Por exemplo, no Pai-nosso a oração é direcionada ao Pai: “Pai nosso que está nos céus” (Mt 6.9-13). Estevão, em sua última oração, direcionou-se a Jesus dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59-60). Judas e Paulo dizem em suas cartas aos crentes que orassem no Espírito Santo (Judas 20, Éf 6.18).

Contudo, o modo mais comum é orarmos ao Pai, em nome de Jesus, com o ajuda do Espírito Santo (Jo 14.13,14;16.23,24; Rm 8.26,27). Orar a qualquer outra criatura é ato abominável de idolatria.

Orando cada vez mais

Uma conversa entre duas pessoas é enriquecida a medida que ambos passam a se conhecerem mais e assim a sinceridade e respeito cada vez mais aumentam.

Também somos assim em nossa conversa com Deus. Você vai achar mais sentido na oração na medida em que for o conhecendo através da Sua Palavra e se conscientizando sobre Sua Santa natureza.

Eu te louvarei de coração sincero quando aprender as tuas justas ordenanças” Sl 119.7

Ouvindo Deus falar com nós

Orar é mais do que falar com Deus. A oração é também ouvir o Senhor falar conosco.

Deus se comunica conosco primeiramente através da Sua Palavra, a Bíblia. O Seu Espírito pode trazer em nossa mente ou criar em nós um desejo de ler um trecho Bíblico que contenha aquilo que Ele deseja nos falar. Ele pode também falar ao nosso coração com palavras inaudíveis, mas verdadeiramente reais. Certamente existem outras formas de Deus falar conosco. É difícil explicar como isto pode acontecer. No entanto, é absolutamente real!

É muito importante reservarmos um tempo em silêncio em nossas orações, esperando que Deus fale ao nosso coração.

Dizendo “Assim seja”

“Amém” é a palavra usada para terminar confissões, louvores e orações (Rm 11.36; 1 Co 14.15-17; Gl 1.3-5; Dt 27.15). O significado desta palavra é  “Assim seja” ou “É verdade”.

Em nossas orações devemos terminar com a palavra “Amém” não somente para demonstrar que a finalizamos, mas também para afirmarmos a  fé no Poder de Deus em nos atender e submeter a nossa vontade a dEle.

Indo [Jesus] um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”.” Mt 26.39

Ajudando você a orar

Todo o crente já alguma vez sentiu dificuldade de orar, seja por causa do sofrimento, da fraqueza, da desventura, de achar que não sabe orar, de desânimo, da tristeza ou até da falta de fé. Nestas ocasiões  o Espírito Santo, que habita no crente, ajuda e intercede por ele junto a Deus.  “Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Não devemos deixar de orar, mesmo que seja difícil. O Espírito nos ajuda e certamente intercederá por nós quando estivermos orando. “E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus”. (Rm 8.27)

Facetas da oração

Observando as orações descritas na Bíblia, cinco aspectos essenciais são apresentados: o Louvor, a Confissão, Ação de Graças, a Súplica e a Intercessão. A oração pode conter apenas um destes aspectos ou mesmo, em uma única conversa com Deus, é possível utilizar todos estes elementos.

Louvor

Louvar significa elogiar, exaltar, glorificar. É clamar  de todo coração, exaltar e honrar a Deus.

Embora pareça ser  simples, fazer elogios a Deus, dizer o que Ele é o agrada . Deus é Santo, Todo-Poderoso, Eterno, Majestoso, Criador, Soberano, Maravilhoso, Glorioso, Sustentador, Deus dos deuses, Reis dos reis, Bendito seja o Seu nome, Aleluia, etc. Os anjos de Apocalipse 4.8 repetiam dia e noite sem parar: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir” (Veja também os verso 9 a 11; Sl 113.3, 34.1; 150).

A oração do Pai nosso inicia com louvor: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9)

A Confissão

A confissão é sem dúvida a parte mais relutante na oração. É difícil dizer a Deus: Confesso que …

Mas a confissão é um passo essencial para sermos atendidos. O Salmista diz: “Se eu acalentasse o pecado no coração, o Senhor não me ouviria” Sl 66.18 Um pecado não confessado nos distância e encobre o Seu rosto de nós (Is 59.1,2). O que devemos fazer, portanto, é professar quem Jesus é para nós. “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, professou Pedro (Mt 16.16). Admitir que erramos, reconhecer que Cristo morreu na cruz por nossos pecados (1 Pe 2.24) e pedir perdão em nome de Jesus (1 Jo 1.9-2.2) é um passo fundamental em qualquer oração.

Ação de Graças

Agradecer é expressar apreço. É dizer Obrigado. Jesus agradeceu ao Pai quando ressuscitara seu amigo Lázaro: “Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto [Lázaro] jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido.” (Jo 11:41)

Em nossa ação de graça, devemos agradecer a Deus pelo que Ele é. Além disso, é importante dirigirmos nossos agradecimentos por tudo que Deus tem feito, seja em nossas vidas ou das pessoas que nos cercam.

Súplica

Súplica é pedir a Deus alguma coisa, é dizer a Ele o que você deseja ou suas preocupações.  Um emprego, uma prova difícil na faculdade,  uma difícil decisão a tomar podem ser uma súplica. Nela pedimos o que desejamos ou precisamos.

Jesus nos incentiva a pedir, buscar e bater:”Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7:7-11)

Contudo é importante estarmos conscientes que quando pedimos coisas erradas, por motivos errados ou aquilo que Deus sabe que fará mal a nós mesmos, não seremos atendidos. Porque Ele não daria pedra ou serpente aos seus filhos.

Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” (Tg 4.2-3)

Intercessão

Interceder é pedir a Deus que aja na vida de outra pessoa. Um exemplo de interceder é a oração de Jesus em João 17. Ele diz: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. (Jo 17.20,21; veja outros exemplos Cl 1.9; Fp 1.19)

A intercessão é um privilégio dos crentes. Deus pode agir em nossas vidas pelas orações de outras pessoas (Pai, Mãe, irmãos e amigos) que clamam por nós. Não importa qual seja a situação, a distância, porque Deus é Onisciente e Onipresente. Ele agirá em qualquer lugar do mundo.

A intercessão funciona da seguinte forma:

1. Você pede a Deus que ajude determinada pessoa (Tg 5.16)

2. Deus sabe exatamente qual é a situação por que passa aquele parente e amigo. Ele conhece todo o passado daquela pessoa; e o que é mais importante, ele conhece todos o futuro. Ele sabe quais as suas necessidades físicas, espirituais e psicológicos. E há um pensamento muito consolador para você: é que Ele ama o seu amigo mais que você mesmo o ama (Jr 20.11-14; 139).

3. Deus tem um plano perfeito para a vida do seu amigo. Ele recebe suas orações e reponde de forma perfeita (Tg 5.16-18; Lc 11.9-13).

4. Seu amigo poderia pedir, ele próprio,  auxílio a Deus, mas é também muito importante que você interceda em seu favor (Tg 5.13,14)

5. Deus vai ajudar seu amigo, mas ele precisa aceitar a direção de Deus para ter a vitória espiritual nessa situação (Éf 1.1-2.22).[1]

Caderninho de oração

Você já desejou orar por alguém mas simplesmente esqueceu? Você já recebeu alguma coisa de Deus e depois esqueceu de agradecer? Ou será que orou de forma tão genérica que nem lembra o que pediu  e se recebeu?

Por isso seria bom ter um caderninho de oração. Nele poderíamos escrever, fazer observações de nossos louvores, confissões, ação de graça, súplica e intercessão.

“Um inglês chamado George Müeller, um santo homem de oração, deixou-nos uma herança espiritual: um caderno de oração chamado “Os tratos de registro de mais de 50.000 respostas específicas de orações”.

Manter um Caderno de oração vai revolucionar seu relacionamento com Deus. Será uma experiência estimulante para você.”[2]

Segue abaixo tabelas que você pode recortar e montar seu caderninho de oração. Mantenha sempre junto a sua Bíblia. Afinal, oração e leitura da Palavra de Deus são inseparáveis.

Louvor
Deus amado, através da Sua Palavra e minha oração, conscientiza-me sobre Sua Santa natureza, como Tu és. 

 

Deus é … 

 

Anotações e passagens Bíblicas:
Confissão
Deus amado, muda a minha vida nestes setores: 

Ajuda-me a amar estas pessoas como tu as amas.

Data Preciso parecer mais com Jesus nestes setores e amar a pessoa: 

 

Resposta, Data:
Agradecimentos
Deus amado Obrigado por:
Data Por: 

 

Súplica
Deus amado, gostaria de ter estas coisas: 

Porém, mais do que estas coisas, sejam feitas a tua Vontade:

Data: Gostaria: 

 

Resposta, Data
Intercessão
Deus amado, pelo seu santo amor e graça, faça isto na vida desta pessoa.
Comecei a hora, Data Nome da pessoa Pedido: 

 

Resposta, data

Autor: N. Mascolli F.

Fonte: Este livro foi baseado no livro de Bobb Biehl / James W. Hagelganz, O livro ORAÇÃO – Como Começar e Continuar Orando, Editora Vida.  Aconselho a quem desejar saber mais sobre o assunto, adquiri-lo. Você pode encontrá-lo acessando www.editoravida.com.br .

Notas

[1] ORAÇÃO – Como Começar e Continuar Orando, autor: Bobb Biehl / James W. Hagelganz, Editor: Vida

[2/ Ibid.


10.6 Orar é o meio de permitir que Deus opere na sua vida

Às vezes, por causa de um sentimento de inutilidade, frustração ou desânimo, alguns crentes perguntam “Por que orar?”

Orar pode ser a atividade mais importante e mais poderosa de toda a sua vida.
Eis algumas razões por quê:

1ª Orar atua em você pessoalmente.
A Paz de espírito, por exemplo, pode vir através da oração.

2ª Orar envolve comunhão e comunicação com o Senhor do Universo.
Isso ajuda a pessoa a ver a vida numa perceptiva mais ampla e a compreender os acontecimentos amais claramente, porque ela está considerando a eternidade.

3ª A oração é o caminho para aprender a vontade de Deus.
Quando vice conhece a vontade de deus, pode submeter-se à sua direção. Quando você se  submete à vontade de Deus, recebe não apenas paz, mas os sentimentos de poder, direção e realização.

4ª Orar é você falar com Deus e Deus falar com você.
Você não pode ter nenhum relacionamento com ninguém a menos que se comunique com ele, e esta comunicação entre vocês dois tem de ser feita em ambas as direções.

5ª Deus ouve e responde às suas orações.
As Escrituras prometem que “todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate; abrir-se-lhe-á” (Lc 11.10)

Você ainda precisa de mais razões para orar além destas?

Autor: Bobb Biehl / James W. Hagelganz,

Fonte: ORAÇÃO – Como Começar e Continuar Orando, Editor: Vida


10. 7 O Louvor em nossa vida

Definição e o objeto

Louvar significa elogiar, exaltar, glorificar.

No louvor Deus é o objeto dos elogios, exaltação e glorificação.

Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e terríveis coisas que os teus olhos têm visto.”  Dt 10:21

Somente a Ele nosso louvor deve ser dirigido, porque tudo que existe é resultado do Seu ato criador. Somos dependentes dele para existir como também para continuar existindo (Ap 4.11; Sl 95.1-7; At 17.25; 1 Cr 16.25).

Portanto, nosso louvor não deve ser prestado aos anjos, nem aos homens ou a qualquer criatura, mas unicamente ao Deus Triuno: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. (Mt 4.10; Dt 6.4,13; 10.21; Êx 20.3)

Elementos do louvor

1. O ponto de partida do nosso louvor: O coração.

O coração é o centro de nossas emoções e sentimentos. Nele devemos sentir amor profundo, um desejo de se entregar completamente a Deus (Pv 4.23; Jr 29.13; Mt 15.7-9).

2. O louvor deve ser uma adoração.

Adorar é sentir um amor profundo, uma vontade de estar junto, de dar atenção exclusiva e entregar completamente nossa vida a Deus. Ao louvar ao Senhor nosso coração deve estar nutrido destes sentimentos.

“…Adore o Senhor, o Seu Deus…” (Mt 4.10; Dt 6.13)

3. O louvor é individual

Partindo do coração, o louvor é individual. Ainda que esteja no meio de uma multidão, cada pessoa dever compartilhar em seu coração a adoração.

4. Aprendendo de Sua Palavra como louvá-lo.

Aplicação pessoal e contínua no estudo da Palavra de Deus é essencial ao genuíno louvor a Deus. Um ditado popular diz: “O que o olho não vê o coração não sente”. Quando estudamos a Bíblia vemos as grandezas de Deus, Sua santidade e Sua vontade para nossas vidas. Estas verdades fazem-nos sentir maior desejo de louvar a Deus e aprendemos a forma correta de fazê-la.

O salmista reconhece que os louvores com retidão só podem acontecer quando aprende-se os justos juízos de Deus.

Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido os teus justos juízos.” (Sl 119:7)

5. Em Espírito e Verdade.

Jesus disse a mulher Samaritana: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:23,24)

Para adorar em espírito é necessário nascer de novo, nascer do Espírito (Jo 3.5-8), ser uma nova pessoa em Cristo (2 Co 5.17; Gl 6.15).  Assim, nosso louvor será aceito por Deus quando partir de coração regenerado, de uma nova criatura em Cristo Jesus.

Para adorar em verdade é necessário conhecer o genuíno evangelho e o Caminho da verdade que é Jesus (Jo 14.6).  Sendo assim, se subentende que devemos aplicar-nos aos estudos de Sua Palavra, procurando compreender Seu santo caráter, propósito, mandamentos, etc. Como também trilhar naquele que é o Caminho da Verdade. O louvor e o estudo da Sagradas Escrituras são inseparáveis.

Como louvar a Deus

Quando falamos de louvor pensamos instantaneamente em cânticos, hinos e louvores. Porém estes fazem apenas parte da vida do crente que louva a Deus.

Com nossa vida

Paulo em sua carta aos “santos e fiéis em Cristo Jesus, que estão em Éfeso“ (Éf 1.1) fala que Deus “em amor nos predestinou … conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça … a fim de que nós … sejamos para o louvor da sua glória.” (Éf 1.4,6,11,12,14).

Não existe uma distinção entre aquele momento que estamos na igreja e o nosso dia a dia. Todas as coisas que fazemos, em qualquer tempo ou lugar, devem ser para o louvor da Sua glória. Em tudo o que fizermos em nossa vida, Deus pode ser glorificado.

Paulo fala que quer seja nas simples coisas como comer e beber ou qualquer outra atividade, deve ser feito para glória de Deus.

“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1 Co 10.31)

Por isso em nosso dia a dia, devemos cativar nossos pensamentos a Jesus (1 Co 10.5) pensando somente no que é bom (Fp 4.8). Se submeter aos nossos superiores (Rm 13.1-2),  agradecer a Deus pelo alimento preparado (Mt 6.11), exercer os frutos do Espírito como amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22). Confessar diante das pessoas o nome de Jesus (Hb 13.15), cantar louvores, orar continuamente (1 Ts 5.17), confessar nossos pecados (1 Jo 1.8 a 2.1) e estudar as Sagradas Escrituras (2 Tm 3.14-17).

Louvamos a Deus quando:

  • Dirigimos elogios sinceros a Ele;
  • Sentimos um amor profundo por Ele;
  • Pensamos Nele a todo tempo;
  • Cantamos louvor;
  • Confessamos nossa fé em Cristo Jesus;
  • Respeitamos ao próximo;
  • Submetemos e respeitamos nossas autoridades e superiores;
  • Não criticamos as pessoas ou as condenamos;
  • Não murmuramos nas dificuldades;
  • Agradecemos a Deus pelo alimento;
  • Expressamos sentimentos de amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão com o próximo;
  • Fugimos de toda espécie de injustiça;
  • Ajudamos ao próximo em suas necessidades;
  • Exaltamos a Deus pela manifestação de Sua glória na criação;
  • Damos um testemunho de servos fieis ao Senhor;
  • Agradecemos a coisas que tem nos feito;
  • Exercemos os dons que nos tem dado;
  • Oramos;
  • Confessamos nossos pecados e arrependidos pedimos perdão em nome de Jesus Cristo;
  • Dedicamos a leitura e estudo das Escrituras;
  • Fazemos Sua vontade;
  • Etc..

Em suma, os elogios dirigidos em palavras ou quando fazemos aquilo que é a vontade de Deus, nutrido de um amor profundo, uma vontade de estar junto, de dar atenção exclusiva e entregar completamente nossa vida a Deus. Sejam as pequenas coisas ou as mais difíceis, nisso consiste o nosso louvor.

Música

A música é a forma mais popularmente conhecida de louvor a Deus – ressalta-se aqui que ela faz apenas parte da vida do crente  que louva.

Os cultos do Antigo Testamento incluíam os cânticos. Alguns dos levitas foram separados para música (1 Cr 15.14 a 22; 2 Cr 7.6). O livro de Salmos está repleto de convites para cantar louvores ao Senhor Deus.

“Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.” (Sl 100:4 veja também Sl 92.1; 104.33)

No Novo Testamento os cânticos continuam fazendo parte dos cultos. Paulo incentiva os cristãos de Colossos dizendo: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.16).

Os salmos podem se referir aos Salmos do Antigo Testamento (Lc 20.42; 24.44; At 1.20; 13.33) ou também a novas composições para o culto (At 16.25). Os hinos eram especialmente usados numa celebração (Mc 14.26; Hb 2.12; veja também At 16.26), enquanto os cânticos eram exaltações dos atos de Deus e por tudo quanto Ele é (Ap 5.9; 14.3; 15.3). A palavra espiritual qualifica os salmos, hinos e cânticos como sendo inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo.

Paulo, em suas cartas, parece ter porções de louvores primitivos  (Ef 5.14; Fp 2.6-11; Cl 1.15-20; 1 Tm 3.16) e outros autores, como João e Pedro, fazem o mesmo (Jo 1.1-14; Hb 1.3; 1 Pe 1.18-21; 2.21-25; 3.18-22).

Em Apocalipse encontramos muitos louvores dirigidos a Deus pelos anjos, e são exemplos vibrantes para nossos cânticos (Ap 4.8,11; 5.9-10,12-13; 7.10,12; 11.15,17-18; 12.10-12; 15.3-4; 19.1-8; 21.3-4).

O tema central de nossos louvores dever ser Deus em sua obra redentora através de Cristo Jesus. Tudo o que Cristo tem feito a nós pela sua infinita graça deve levar-nos a seguir a Jesus glorificando e louvando a Deus assim com fez o cego curado por Jesus e o povo que o viu realizar o milagre.

“E logo viu, e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.” (Lc 18:43)

Com o sofrimento

A nossa fé, amor e alegria experimentada nos sofrimentos são um louvor a Deus.

Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo;” (1 Pe 1:7)

Um exemplo é Jó, que se manteve fiel mesmo sem entender o porque de seu sofrimento. Mas Deus, através da fidelidade de Jó, foi louvado diante de Satanás que não conseguiu fazê-lo renegar Seu Deus (Jo 1 a 2.3).

A fidelidade em tempos difíceis e a aceitação da vontade de Deus no sofrimento ressoam como elogios, exaltação e glorifica a Deus.

Benefício

Quando louvamos a Deus experimentamos uma maravilhosa comunhão que nos trás benefício como:

Cumprimos o propósito da vida

Por milhares de anos filósofos discutem e ponderam sobre o propósito da vida, ou seja, para que estamos aqui?

Esta resposta só pode ser correta quando feita pelo próprio Criador. Felizmente o Criador responde através de Sua Palavra:

A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz.” (Is 43:7 veja também Ef 1.11,12)

Quando louvamos a Deus o propósito para qual fomos criados é cumprido e assim nossa alma  se sacia preenchendo o vazio que antes havia em nós.

Renovamos as forças

Em momentos difíceis o louvor alivia a alma e renova as forças. Um exemplo é Jó novamente, que sofreu e no momento mais difícil de sua vida palavras de louvor saíram de sua boca:

Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se, rosto em terra, em adoração, e disse:”Saí nu do ventre da minha mãe,e nu partirei.O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”.” (Jó 1.20,21 NVI)

Outro exemplo é o alívio que Saul sentia quando Davi louvava a Deus na sua presença, o espírito mau se retirava (1 Sm 16.23).

Paulo e Silas, quando presos no cárcere em Macedônia, estiveram com os pés presos num tronco e suas costas estavam sendo açoitadas. Certamente suas costas ardiam e seus pés doíam, no entanto louvavam a Deus com oração e hinos (At 16.22-25).

Quando Louvamos a Deus, Ele ministra a nós e assim nossas forças minguantes são renovas.

Alegria Mútua

No louvor alegramos a Deus (Is 62.4-5; Sf 3.17) e nos alegramos em Deus (Lc 24.52-53; At 2.46-47; Sl 42:4; 100.2; Tg 5:13). O salmista nos ajuda a compreender como pode ser isto quando diz: “Então irei ao altar de Deus, a Deus, a fonte da minha plena alegria” (Sl 43.4 nvi). Davi diz em seu salmo  “Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente.” (Sl 16:11)

Sendo Deus a fonte de alegria, na sua presença há fartura de alegrias que contagia todos os que louvam.  Nosso Senhor habita nos louvores.

Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.” (Sl 22:3)

Os males fogem

Um ditado popular diz “Quem canta os males espantas”.  Isso acontece quando louvamos a Deus, seja com nossa vida ou especificadamente pela música. Através do louvor, Saul obteve alívio do mal-espírito (1 Sm 16.23). Paulo e Silas superaram suas dores (At 16.22-26) e os inimigos de Israel, moabitas, edonitas e sírios, foram derrotados.

“Depois de consultar o povo, Josafá nomeou alguns homens para cantarem ao SENHOR e o louvarem pelo esplendor de sua santidade, indo à frente do exército, cantando: “Dêem graças ao SENHOR, pois o seu amor dura para sempre”. Quando começaram a cantar e a entoar louvores, o SENHOR preparou emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e dos montes de Seir, que estavam invadindo Judá, e eles foram derrotados..” (2 Cr 20:21.22 NVI)

Evangelizamos

A vida da pessoa que louva a Deus testemunha a Jesus.  As pessoas, vendo o caráter de Cristo moldado em nós, são estimuladas a conhecer ao Senhor (At 1.8).

Os louvores em forma de músicas são muito eficientes na evangelização. Isto porque a melodia amolece o coração, permitindo que a letra cantada penetre no coração. O Senhor entra na casa de cada um, e com ele ceia (Ap 3.20).

E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” (At 2.46,47)

Ruídos em nosso louvor

O pecado é o ruído que desqualifica os louvores dirigidos a Deus. Através do profeta Isaías, Ele disse à nação rebelde Israel:  “Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene.” (Is 1:13, veja também Is 59.1-2).

No louvor em forma de música as desqualificações surgem quando se pensa apenas na parte técnica e/ou motivada por orgulho, egocentrismo, jactância, ganância, desejo de ser reconhecido pelas pessoas, quando o foco deve ser o próprio Deus e assim são nutridas por um coração que não deseja adorar a Deus.

Com o pecado enraizado em nossos corações nossos louvores não serão ouvidos por Deus.

“Se eu acalentasse o pecado no coração, o Senhor não me ouviria”

(Sl 66.18 NVI)

Acertando os ruídos

Não somos mais escravos do pecado desde que aceitamos Cristo Jesus. Porém, Ele ainda se faz presente em nossas vidas. Devemos purificar-nos diariamente para que nosso louvor seja agradável ao Senhor.  João ensina como fazer:

Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.  Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1 Jo 1.7-10)

Confessar a Deus admitindo que erramos, reconhecer que Cristo morreu na cruz por nossos pecados (1 Pe 2.24) e pedir perdão em nome de Jesus (1 Jo 1.9-2.2) é essencial. Diariamente devemos fazer isto.

No que diz respeito ao louvor em forma de música, devemos sempre nos policiar se estamos fazendo unicamente para Deus ou por outros motivos pecaminosos. Somente o Senhor deve ser o motivo de nossos louvores, cânticos, hinos e corinhos. Ele não divide o louvor e sua Glória com ninguém ( Is 42.8; Is 48.11).

Só o SENHOR é digno de louvor.

“Porque grande é o SENHOR, e digno de louvor, mais temível do que todos os deuses.” (Sl 96:4)

“Grande é o SENHOR, e muito digno de louvor, e a sua grandeza inexcrutável.” (Sl 145:3)


10.8 A Música na Igreja

A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração.” Cl 3.16

Alguns ramos da fé Reformada, impacientes por proteger a Igreja de acréscimos da tradição humana, impressionados pela continuidade entre Israel e a Igreja e notando que os termos “salmos”, “hinos” e “cânticos” são usados no Livro dos Salmos, crêem que Paulo previu só o cântico dos Salmos do Antigo Testamento no culto público. Essa restrição, contudo, compreende mal o ensino de ensinamento de Paulo. Ele reúne os termos para realçar a ampla gama de expressão musical que o louvor a Deus agradecido e profundamente sincero suscita do Corpo de Cristo.

A palavra “salmos” se refere, no mínimo, ao uso do saltério do Antigo Testamento (Lc 20.42; 24.44; At 1.20; 13.33), mas pode também referir-se a novas composições para cultos (1 Co 14.26). A palavra espiritual (pneumatikos, no grego) qualifica o potencialmente secular termo “cântico” como sendo ensinado ou dirigido pelo Espírito Santo (cf. 1 Co 2.6; 15.44-45).

A obra redentora de Cristo provocou uma efusão de hinos de louvor por parte de seu povo, freqüentemente moldados segundo os cânticos do Antigo Testamento (p. ex., Lc 1.46-53,67-79; 2.14,29-32). Paulo pessoalmente usou a música na sua própria adoração de culto (At 16.25), e tem sido, desde há muito, observado que suas cartas contêm porções de hinos cristãos primitivos (Ef 5.14; Fp 2.6-11; Cl 1.15-20; 1 Tm 3.16). Cânticos de louvor do Cristianismo primitivo também parecem subjazer em Jo 1.1-14; Hb 1.3; 1 Pe 1.18-21; 2.21-25; 3.18-22. Os “novos cânticos” do Apocalipse são, em si mesmos, um estudo da qualidade vibrante do culto cristão primitivo (Ap 4.8,11; 5.9-10,12-13; 7.10,12; 11.15,17-18; 12.10-12; 15.3-4; 19.1-8; 21.3-4).

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra [Editor Geral: R. C. Sproul]


10. 9 Vestimenta e Jóias

Vestimenta

Algumas denominações dão um valor excessivo ao chamado Uso & Costume, a ponto de excluir do rol de membros irmãos que não se enquadram na visão dos seus fundadores ou teólogos.   À luz da Bíblia é impossível afirmar que a mulher ou o homem não deve usar determinada vestimenta. [A Bíblia não faz descrição do tipo de roupa que os crentes devam usar].

O homem no princípio de sua existência andava nu, Gn 2.25. As primeiras roupas que usou eram feitas de peles de animais, Gn 3.21. Subseqüentemente os materiais empregados no fabrico de vestimentas eram a lã, Gn 31.19; Lv 13.47; Jó 31.20, o linho, Ex 11.31; Lv 16.4, o linho fino, Gn 41.42, e finíssimo, Lc 16.19, a seda, Ez 14.10,13; Ap 18.12, o saco de cilício, Ap 6.12, e as peles de camelo, Mt 3.4. As peças essenciais dos trajes do homem e da mulher eram duas: Uma túnica, espécie de camisa de mangas curtas, chegando até aos joelhos, Gn 37.3; 2Sm 13.18, às vezes tecida de alto a baixo e sem costura, Jo 19.23, 24, cingida por um cinto; eram iguais para ambos os sexos, a diferenciação estava no estilo e na forma de usá-las. Outra peça consistindo em um manto, Rt 3.15; 1Rs 11.30; At 9.39, feito de um pano de forma quadrada, guarnecido de fitas, Nm 15.38; Mt 23.5. Punha-se sobre o ombro esquerdo, passando uma das extremidades por cima ou por baixo do braço direito. A parte inferior do baixo manto chama-se orla, Ag 2.12; Zc 8.23. As vestes dos profetas eram de peles de ovelhas, ou de cabritos, 2Rs 1.8; Zc 3.4; Hb 11.37, e também de peles de camelo, Mt 3.4. Outra peça de roupa era às vezes usada entre a túnica e a manta, por pessoas de distinção, e oficialmente pelo sumo sacerdote, Lv 8.7; 1Sm 2.19; 18.4; 24.4; 2Sm 13.18; 1Cr 15.27; Jó 1.20. Era uma veste comprida sem mangas, apertada na cinta. Os cintos serviam para facilitar os movimentos do corpo e eram feitos de couro, linhos crus ou finos, 2 Rs 1.8; Jr 13.1; Ez 16.10, muitas vezes bem elaborados com decorações artísticas, Ex 18.39; 39.29; Dn 2.5; Ap 1.13. A espada era levada à cinta e o dinheiro também, Jz 3.16; 1Sm 25.13; Mt 10.9.  Fora de casa traziam sandálias, sapato rudimentar, feitas com uma sola de madeira ou de couro, Ex 16.10, apertadas aos pés nus por meio de correias, passando pelo peito do pé e à roda dos artelhos, Gn 14.23; Is 5.27; At 12.8. O povo comum andava com a cabeça descoberta. Às vezes traziam turbantes, Jó 29.14; Is 3.20; Ez 23.20. O véu era usado pelas mulheres em presença de pessoas estranhas, Gn 24.65; Ct 5.7, se bem que muitas vezes elas saíam com as faces descobertas, Gn 24.16; 26.8.

Os santos são sensíveis à voz do Espírito Santo e antes de usar determinadas vestes, procuram conhecer a vontade de Deus. Não é conveniente ao homem usar roupas sabidamente femininas, [e as mulheres usarem as roupas masculinas. É importante observar que cada cultura tem sua distinção de roupas femininas e roupas masculinas. Saias em nossa cultura são vestimentas femininas, no entanto para os escoceses a saia chamada “Kilt” são vestimentas para os homens. Em nossa cultura como por quase todos os países as calças são vestimentas para ambos os sexos, esta peça do vestuário, é usada tanto  para o masculino como para o feminino, mudando é claro, o corte e tamanho.]

As mulheres devem vestir-se com sabedoria visando apenas à edificação do próximo, jamais, despertar a sensualidade ou desejos lascivos. Vestes transparentes, decotes [muito] profundos, saias e blusas [muito] curtas, calças [muito] apertadas ( [super] justas) e toda a espécie de roupas que mostram ou marcam [muito] o corpo despertando [propositalmente] a sensualidade devem ser rejeitadas. É preciso cuidado com os extremos, o uso de vestidos e saias cobrindo os tornozelos, blusas com mangas até os pulsos e golas à altura do pescoço; não é sinal de santidade, geralmente desperta a rejeição no próximo impedindo que exalemos o bom perfume de Cristo. [O uso destas roupas cumpridas (saias cobrindo os tornozelos, blusas com mangas até os pulsos e golas à altura do pescoço) é uma falsa santidade, uma devoção baseada na aparência e não nos frutos do Espírito Santo (“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” Gl 5.22).

O uso de roupas de “marca” ou “etiqueta” de modo geral é um canal aberto para o devorador (são caríssimas) e que desperta no coração a vaidade. […]

Quero também que as mulheres sejam sensatas e usem roupas decentes e simples. Que elas se enfeitem, mas não com penteados complicados, nem com jóias de ouro ou de pérolas, nem com roupas caras! Que se enfeitem com boas ações, como devem fazer as mulheres que dizem que são dedicadas a Deus!” 1 Tm 2:9,10

Jóias e Maquiagem

O uso de jóias e bijuterias não é errado, no entanto, é preciso que sejam sensatos. Os servos de Deus não deve assemelhar-se à uma “perua”. A ostentação é um pecado.
O uso de maquiagem não é condenado por Deus, no entanto, às mulheres precisam ser sensíveis ao Espírito e não optar por nada demasiadamente pesado. O equilibro se aplica também a esta área.

Não procure ficar bonita usando enfeites, penteados exagerados, jóias ou vestidos caros.” 1Pe 3.3

Finalizando, medite:
Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.  Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem.” 1Co 10.23,24

Autor: Elias R. de Oliveira
Bibliografia: D. Bíblia John Davis

*Os texto em […] são acrescemos do editor do site Teologia Calvinista.


10.10 O Mundo
Os Cristãos estão na sociedade para servi-la e transformá-la

“Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: “Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro”, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem”. Colossenses 2.20-22

Mundo, no Novo Testamento, às vezes significa o mesmo que no Velho Testamento, a saber, esta terra, a boa ordem natural que Deus criou. Comumente, porém, significa a raça humana como um todo, agora caída em pecado e desordem moral, tornando-se radicalmente anti-Deus e má. Ocasionalmente, os dois sentidos parecem mesclar-se, de sorte que afirmações sobre o mundo carregam a complexa nuança de pessoas perversas incorrendo em culpa e vergonha por seu mau uso das coisas criadas.

Os cristãos são enviados ao mundo por seu Senhor (Jo 17.18) para testemunhar acerca do Cristo de Deus e seu reino (Mt 24.14; cf Rm 10.18; Cl 1.6,23) e para atender a suas necessidades. Mas, devem fazer isso sem cair vítimas de seu materialismo (Mt 6.19,24,32), sua indiferença a respeito de Deus e da vida futura (Lc 12.13-21), e a busca altiva do prazer, lucro e posição com exclusão de qualquer outra coisa (1 Jo 2.15-17). O mundo é, no presente, reino de Satanás (Jo 14.30; 2 Co 4.4; 1 Jo 5.19; cf. Lc 4.5-7), e a perspectiva e fixação das sociedades humanas refletem mais o orgulho visto em Satanás do que a humildade vista em Cristo.

Os cristãos, como Cristo, devem agir com empatia em relação às ansiedades e necessidades das pessoas, para servi-las e comunicar-se eficazmente com elas. Devem faze-lo, porém, com base em um desinteresse pelas motivações deste mundo, pelo qual estão de passagem momentânea em demanda do lar celestial, e no qual seu sincero propósito deve ser o de agradar a Deus (Cl 1.9-12; 1 Pe 2.11). O retiro monástico para afastar-se do mundo não é sancionado (Jo 17.15), nem o é tampouco o mundanismo (isto é, qualquer incorporação da auto-absorção terrena das pessoas deste mundo: Tt 2.12). Jesus estimula seus discípulos a equiparar-se à engenhosidade das pessoas mundanas no uso de seus recursos para favorecer suas metas, porém especifica que suas próprias metas não devem apoiar-se na segurança terrena, mas na glória celestial (Lc 16.9).

A primeira exigência de Deus para os cristãos neste mundo é que sejam diferentes dos que vivem à sua volta, observando os preceitos morais de Deus, praticando o amor, evitando a licença indecente e não perdendo sua dignidade como portadores da imagem de Deus em razão de qualquer forma de auto-indulgência irresponsável (Rm 12.2; Ef 4.17-24; Cl 3.5-11). Requer-se uma ruptura completa com os sistemas de valores e estilos de vida do mundo, como base para praticar a similitude com Cristo em termos positivos (Ef 4.25-5.17).

A tarefa designada ao cristão é tríplice. O principal mandato da igreja é a evangelização (Mt 28.19,20; Lc 24.46-48), e cada cristão deve procurar, por todos os meios, promover a conversão dos incrédulos. O impacto da mudança na própria vida do cristão será significativo (1 Pe 2.12). O amor ao próximo deve também levar constantemente o cristão a ações de misericórdia de todos os tipos. Mas, além disso, os cristãos são convocados para cumprir o “mandato cultural” dado por Deus à raça humana na Criação (Gn 1.28-30; Sl 8.6-8). O homem foi feito para administrar o mundo de Deus, e esta administração é parte da vocação humana em Cristo. Ela exige trabalho fatigante, tendo como alvo honrar a Deus e prover o bem-estar dos outros. Este é o real “trabalho ético” protestante. Ele é essencialmente uma disciplina religiosa, o cumprimento de um “chamado” divino.

Sabendo que Deus em sua benignidade e clemência continua, em face do pecado humano, a preservar e enriquecer seu mundo errante (At 14.16,17), os cristãos devem envolver-se em todas as formas de atividade humana lícita, e fazendo isto em termos do sistema de valores e visão da vida cristã, tornar-se-ão sal (um preservativo que faz as coisas melhores ao paladar) e luz (uma iluminação que mostra o caminho a seguir) na comunidade humana (Mt 5.13-16). Assim, à medida que os cristãos cumprem sua vocação, o Cristianismo se torna uma força cultural transformadora.

Autor: J. I. Packer
Fonte: Teologia Concisa, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br


10.11 O Estado
OS CRISTÃOS DEVEM RESPEITAR O GOVERNO CIVIL

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que proceda de Deus; e as autoridades que existem foram  por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre sis mesmos condenação.” Romanos 13.1,2

O governo civil é um instrumento ordenado por Deus para reger a vida das comunidade. Ele é um dentre numerosos meios, incluindo ministros na igreja, pais na família e professores na escola. Cada um desses meios tem sua própria esfera de autoridade sob Cristo, que agora rege o universo em nome de seu Pai, e cada esfera tem de ser delimitada em referência às outras. Em nosso mundo decaído, estas estruturas de autoridade são instituições da ‘graça comum” de Deus (providência bondosa), colocadas como um baluarte contra anarquia, a lei da selva e a dissolução da sociedade ordenada.

Baseando-se em Romanos 13.1-7 e 1 Pedro 2.13-17, a Confissão de Westminster proclama a esfera do governo civil como segue:

Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e, a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo das bons e castigo dos malfeitores. … Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves do Reino do Céu. (XXIII.1,3)

Porque o governo civil existe para o bem-estar de toda a sociedade, Deus dá-lhe o poder da espada (isto é, o uso lícito da força para impor leis justas: Rm 13.4). Os cristãos devem reconhecer isto como parte da ordem de Deus (Rm 13.1,2). Mas as autoridades civis não devem usar este poder para perseguir os adeptos ou não adeptos de qualquer religião particular, ou para defender qualquer forma de mal.

O estado pode apropriadamente cobrar taxas por serviços prestados (Mt 22.15-21; Rm 13.6,7). Porém, se proibir o que Deus requer ou requerer o que Deus proíbe, alguma forma de desobediência civil, com aceitação de suas conseqüências penais (mostrando assim que se reconhece a autoridade atribuída por Deus aos governos como tais), torna-se inevitável (At 4.18-31; 5.17-29).

Os cristãos devem instar com os governos a cumprir seu papel corretamente. Devem orar por eles, obedecer-lhes e zelar por eles (1 Tm 2.1-4; 1 Pe 2.13,14), recordando-lhes que Deus os ordenou para dirigir, proteger e manter a ordem, mas não para exercer a tirania. Num mundo degradado, em que o poder costumeiramente corrompe, as instituições democráticas que dividem o poder executivo entre muitos e fazem todos seus detentores responsáveis perante o povo, em geral oferecem a melhor esperança de evitar a tirania e assegurar a justiça para todos.

Autor: J. I. Packer
Fonte: Teologia Concisa, Ed. Cultura Crista.


10.12 O voto eleitoral ético dos cristãos

1. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País e Município;

2. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;

3. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

4. Os líderes devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multi-partidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, os vários representantes de correntes políticas possam ser ouvidos sem pré-conceitos;

5. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;

6. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidas com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queria eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um “despachante” de igreja.

7. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguirá alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades ou outros “trocos”, ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais “acertos” impliquem a prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a “recompensa” seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;

8. Os eleitores evangélicos devem votar, para Presidente da República sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de “boatos” do tipo: “O candidato tal é ateu”; ou “O fulano vai fechar as igrejas”; ou: “O sicrano não vai dar nada para os evangélicos”; pi ainda: “O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos”. É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos;

9. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: “o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto”, é de bom alvitre que, ainda assim, se dê um “voto de confiança” a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. A fé deve ser prioritária às simpatias ideológico-partidárias.

10. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.

Fonte e autoria: Documento elaborado pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB), no Rio de Janeiro, em 17 e 18 de março de 1994.

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